Com a conclusão do processo de aquisição da carteira de Ramos Elementares (RE) da Sul América pela Allianz (divulgada em 10/julho), os ganhos de escala e especialização mostram cada vez maior relevância por parte das seguradoras que atuam no Brasil.

A partir deste movimento, as cinco maiores Seguradoras atuando no ramo de Automóveis vão deter participação equivalente a 72% de um mercado de R$ 36 Bilhões em Prêmios (dados de 2019, sem DPVAT). Pela ordem – decrescente – aparecem a partir de agora como as cinco maiores carteiras de Automóvel:  Porto Seguro, Allianz, Bradesco, Tokio, HDI,  a grande maioria delas com uma forte concentração nos Corretores de Seguros como principal canal para a geração de negócios no ramo Auto.

Pela (muito provável) maior eficiência a partir dessa maior escala por parte das seguradoras (desde que com a gestão adequada que esse diferencial proporciona), este movimento de concentração, tanto através de novas aquisições quanto de crescimentos orgânicos mais acentuados por parte de alguns “players” de grande porte e maior capacidade de investimento, deverá ter continuidade nos próximos meses ou anos, e talvez replicando o que já aconteceu no mercado financeiro (bancos de varejo principalmente). Vale destacar que a forte necessidade de alocação de capital para se constituir e operar uma seguradora acaba direcionando bastante as insurtechs para o mercado de corretagem de seguros, limitando bastante a entrada de novas empresas como seguradoras local e globalmente.

Importante mencionar que se para alguns ramos – elementares inclusive – essa importância da escala e seus ganhos pode ser construída localmente, dado o considerável porte do mercado brasileiro, para outros – grandes riscos principalmente – a busca pela competitividade e eficiência tem uma leitura global. Alguns exemplos nesse movimento particular foram vistos em anos recentes, quando tanto Itaú (para a Ace/Chubb em 2014) quanto Bradesco (para a Swiss Re em 2016) negociaram suas carteiras de Transportes/Grandes Riscos, mesmo tendo um forte relacionamento corporativo – notadamente via seus respectivos bancos – e um amplo portfólio de operações com as maiores empresas , multinacionais e brasileiras, que atuam em nosso mercado.

Talvez o próximo movimento significativo em relação ao setor de Grandes Riscos no Brasil venha a ocorrer não em relação à mudança na participação, market-share das seguradoras neste mercado, mas sim à atuação das Resseguradoras, que têm papel crítico e decisivo na maioria das operações desenvolvidas e estruturadas pelos corretores e seguradoras.

Isso se deve ao fato que, mesmo após o fim do monopólio do mercado de resseguros no Brasil (em 2007) e sua privatização (em 2013), o IRB vem mantendo ao longo dos últimos anos uma posição de forte liderança neste mercado (entre 34 e 40% de market-share entre 2015 e 2019) e que poderá ser bastante reduzida a partir deste ano como consequência de eventos que impactaram sensivelmente sua imagem perante o mercado e levaram a uma necessidade de recomposição da Diretoria e Conselho recentemente. Em maio/2020 foi estabelecida fiscalização especial que está sendo conduzida pela Susep, tendo como principal objetivo a avaliação dos ativos garantidores de Provisões Técnicas. Mesmo com profissionais de muita tradição, competência e reconhecimento do mercado entrando no IRB nos últimos meses para lidar com esta situação, o foco da nova gestão deverá ser, durante um bom tempo, como ajustar, corrigir o passado da melhor maneira, o que deverá dar espaço para o crescimento de concorrentes globais que já atuam (com maior ou menor apetite de risco) no mercado brasileiro.

A movimentação também tem se mostrado ainda mais intensa quando observamos o mercado de corretagem de seguros brasileiro: transferência do controle de corretoras tradicionais regionais para grandes corretoras globais ou locais , maior número de insurtechs atuando em Ramos Elementares principalmente, novos players divulgando a utilização de Inteligência Artificial para melhoria na performance – menor sinistralidade – nos planos de Saúde Corporativos e um posicionamento por parte da Susep que tem gerado bastante discussão entre todos os “players” do mercado, corretores principalmente. Merece um artigo específico, pela riqueza de possibilidades e caminhos a serem percorridos.

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